sábado, 22 de agosto de 2009

Desencontros sociais

Ontem, na fila do almoço de uma escola très chic na Barra da Tijuca:

[Criança de, no máximo, 7 anos]: Cara, sabe o quê (tradução corrente de 'You know what')? Nas minhas férias eu peguei um avião da TAM até Miami. Aí de lá o meu pai alugou um carro e a gente foi de carro pra Orlando. Eu fui de novo na Disney e...

Nessa parte da emocionante narrativa, eu, embasbacada, não com a viagem, mas com a pose da criaturinha, me dei de presente não mais prestar atenção no papinho e comecei a escolher a salada para o meu prato.

Turno da noite, saída da escola de Acari. Meu carro preso por um ônibus de turismo e um táxi, ambos com seus passageiros participando de um animado culto evangélico. Com sérios problemas pra sair de lá:

[Eu, para o porteiro]: F., me ajuda! Menino, e agora, como é que eu vou sair daqui?

[Um aluno adulto, do 1º ano do Ensino Médio, que estava indo embora pra casa, depois de um dia inteiro de trabalho e parte da noite na escola]: Peraí, professora, isso é mole, entra no carro, não fica na chuva, que eu vou lá resolver pra senhora!

Em menos de 5 minutos, o motorista do táxi já estava dando ré no carro e eu, com tranquilidade, livre pra voltar para casa. Pelo retrovisor, vi meu aluno acenando. Abri a janela, agradeci devidamente e, de quebra, recebi o seguinte comentário: "Vai devagar, professora! Olha que tá chovendo muito e você ainda vai pegar a Brasil!"

Não pude deixar de confrontar esses dois momentos de um mesmo dia. Os dois diálogos me acompanharam pela Dutra, pela Brasil e pela Linha Amarela, até a porta de casa. Me fizeram pensar no desencontro em que vivemos: desencontro social, boneca russa que contém em si desencontros outros: de linguagem, de trato, do próprio encontro. Enquanto isso, vou tentando, eu mesma, me encontrar, para não me perder no trajeto esquisito Barra-Acari de toda semana.

Comentário número 1: Eu não gosto de professor. Professor é assim... tão... professor!

4 comentários:

  1. Comentário número 1: Eu não gosto de professor. Professor é assim...tão...professor!

    rsrsrsrsrsrs

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  2. Comentário número 2: Eu não gosto de alunos de escolas très chic. São comentários tão... fora da realidade (da MINHA realidade)!

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  3. Pois é amiga, ser professor tem dessas coisas, não vemos "desencontros" só valores sociais, mas sim nos valores familiares. Principalmente quando penso no que meus pais fizeram, e minha mãe faz por mim, e no que os pais de hoje em dia passam para seus filhos!!

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  4. Amiga, como um professor, presente no meio dessa confusão de desencontros, não poderia deixar de comentar essa sa postagem:
    Acredito que Deus realmente escolhe caminhos certos para as pessoas, contudo, muitas vezes precisamos participar de desencontros como este para saber como lidar com as situações, tirando apredizados que podem ser passados adiante... nossa cidade, assim como muitas outras cidades são assim, cheias de desencontros. Em Campo Grande, no bairro onde leciono vejo esse desencontro dentro da sala de aula. Onde senta um aluno que assiste desenho na Globo através do seu celular, tb senta um aluno que não só, não tem celular, como tb não sabe nem como entrar na internet... a realidade é dura... mas o estudo pode sim mudar tal realidade e fazer com que os desencontros se tornem encontros com troca de informações...

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