quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Retina

Manhã de terça-feira, caminhando pela rua, vi a moça sair do prédio. Seus cabelos molhados, seu terninho preto, seu ar cansado e seus tantos quilos a mais deixariam passar a atenção do transeunte. Seu ar comum facilmente a camuflaria no meio da rua vazia. O sol forte, refletido na Baía, chamava mais a atenção para a beleza do dia do que para a beleza que sua leve corcundinha escondia. Lado direito da rua, adiante.
No caminho oposto, confesso, ele chamou atenção. Alto, cabelo rente, a roupa social figurava mais uniforme que elegante. Seu olhar fixo suspirava preocupação. Ou nada mesmo, não sei precisar. Vinha do lado direito.
Ela ia... ...Ele vinha.
Ela foi. Ele também.
Eu passava, eles passaram antes de mim.
E foi então que eu vi.
Os olhos dele acompanharam a beleza escondida por baixo dos cabelos molhados no ombro. Seus olhos, apontando para baixo, não suspeitaram daquilo que os meus foram testemunhas.
Depois da rápida mirada, do olhar que escapava um pequeno e suave sorriso, ele retomou sua caminhada. E foi. E ela, partindo de seu olhar baixo, melancólico, curvado, olhou para trás e deixou escapar um pensamento infeliz, sozinho. Pensou na solidão, no almoço, talvez. Na meia furada, na janela esquecida aberta. Ou no transeunte tão bonito, tão bonito pra ela. O seu mesmo que lhe tinha mirado, admirado.

***

Nossos olhos caminham na fugacidade, se perdem em um mar de visões. É bom parar a mirada de vez em quando, registrando na retina as passagens da vida real. E depois, com os olhos do papel (ou do écran, tanto faz), fazer História com essas moventes paisagens.

domingo, 7 de agosto de 2011

No te calles

Le tengo rabia al silencio,
por lo mucho que perdí.
Que no se quede callado,
quien quiera vivir feliz.

Un día monté a caballo
y en la selva me metí
y sentí que un gran silencio
crecía dentro de mí.

Hay silencio en mi guitarra,
cuando canto el yaraví
y lo mejor de mi canto
se queda dentro de mí.

Cuando el amor me hizo señas,
todo entero me encendí
y a fuerza de ser callado,
callado me consumí.

Le tengo rabia al silencio,
por lo mucho que perdí.
Que no se quede callado,
quien quiera vivir feliz.

(Atahualpa Yupanqui - Canção do folclore argentino)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O presente mais lindo

Poema Barroco

Cedo, ela lhe contou sobre o amor.
Mas, como se aprende a amar, sem saber o que é saudade?
Os dois são amigos que se vêem rápido, feito sol e lua.
Um, claro e forte; outra, linda e triste.
Saudade é querer que o tempo faça diferente.
Amor é o Tempo querendo da gente o mesmo,também.
Tempo não precisa de ninguém.
Saudade precisa de um.
Amor, de dois.
Vinte dias de luz, menos dias de sombra.
Amor e saudade, dia e noite.
Um só chega quando o outro sai...
Ouro que vira prata, e quando o tempo vira nada
Os dois se fundem em um terceiro:
O querer (esse sim o mais valioso) eterno.

domingo, 17 de julho de 2011

Revisão

Todo texto precisa ser revisado, antes de ser publicado. Até mesmo aqueles que são cuidadosa e demoradamente escritos, rascunho após rascunho, por toda a vida. Em determinado momento, o autor (perdoe-me, Umberto Eco, não precisa ser nenhum modelo para fazer pensar nisso) apercebe-se dos seus erros e se dedica, enfim, a reescrever as partes falhas. Percebe ele, então, muitos, infinitos falhanços. E percebe, triste, que as falhas dos outros que tiveram início em si são profundamente dotadas do seu próprio arrependimento... Mas que as falhas inerentes dos outros, aquelas nas quais ele não pode tocar, mexer, apagar, essas são irreparáveis.

Só há duas possibilidades, nesse caso: 1) Aprender a com elas conviver ou 2) Arrancar a página do caderno, forçosamente, e substituir o vácuo da narrativa, mais à frente, por outros enredos. Afinal de contas, nada (nem ninguém, especialmente) não é digno de substituição.

Mas o sujeito-autor que se quer de papel, pobre destino, é também uma falha em pessoa, cujo primeiro dos erros é o medo de errar. E nisso ele considera, cogita, perde noites de sono. E disfarça, e sorri, e desabafa com os mais chegados. E qual é sua decisão? Escrever para organizar. Para pensar e refletir. Para, enfim, acalmar.

Talvez ele escreva pelo medo da solidão (e as palavras são companheiras perfeitas. Uma vez com elas, sempre ao lado delas, basta solicitá-las). Amigas presentes, convocadas através do mais profundo silêncio, vêm devagar e entram na cabeça do autor e fluem por suas rápidas mãos. E, como jorros de sangue (ou lágrimas que teimam em não se desprender dos olhos reais), vão, mimeticamente, reproduzindo os movimentos que o coração gostaria de fazer, mas não pode.

O conjunto universo que envolve o autor, seu eu-lírico, quem sabe? Ou um exoesqueleto de palavras e sentimentos? Enfim... ISTO sugere, humildemente: "Deixe passar. Não se desfaça de nenhuma personagem. Mostre a si mesmo que é capaz de continuar escrevendo, a história está ficando boa, vá em frente."

E ele, reticente, aceita a sugestão.

Não há o que fazer. Impossível: voltar no tempo, modificar personalidades adultas, desfazer amores, olhar-se sem um espelho.

Deixa, enfim, estar. Convoca a banda que gosta: "deixa ser/ como será/ tudo posto em seu lugar.../ numa moldura clara e simples/ sou aquilo que se vê".

Mas ele não se vê e, por isso, vai se deixando refletir através dos olhos dos outros. E quem será ele, ao fim e ao cabo, se não tiver espelhos carnais por quem venha a se mirar, a se escrever e a produzir?

Deixa estar.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Mais simples ainda

No calor:

Sob a luz do sol, sentir o calorzinho entrar pela pele e aquecer o coração.
Isso tem ligação direta com o sorriso, que brilha, brilha, refletindo a luz do Astro Rei.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Simples

No frio:
Um chá, um café, um pão quentinho, um abraço (só a vontade dele).

***

É somente quando se distancia do seu lugar que se percebe que o simples é tão belo. E tão saudoso.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Festa Junina!






Santo Antônio, meu querido santinho,



Uma vez olhei pra Lua e pedi, em teu nome, um namorado.
Não precisava ser bonito, nem matreiro; bastava ser interessado.
Se tivesse interesse em ser, bastaria.
Daí, ele poderia ser tudo: príncipe, amigo, rei, poeta, mecânico, confidente, chiclete, amante, mil coisas.
A Lua, sua amiga, ouviu e correu pra contar.
O senhor, de bom grado, resolveu ajudar. Deixou as banderinhas de lado, pulou fogueira, apressou o quentão...
E mandou, de balão, alguém pra aquecer meu coração.
E essa rima safada, danada de pobrinha, é só pra comemorar
Hoje, no seu dia, meu santo querido, o seu olhar de santo, o seu coração de homem bom.
E também pra falar pra Lua, bonita... Que a gente já se casou sob o seu véu (E a bênção de Santo Antônio, que não poderia faltar)!
E que a partir daquele dia
Todas as noites frias
(Fossem elas suas, de São Pedro ou São João)
Passaram a ser aquecidas, embandeiradas, floridas, animadas
E que o tumtum da quadrilha bate forte até agora.
Eita, festança danada de boa!
Obrigada, meu Santinho querido.

domingo, 5 de junho de 2011

Ele vem chegando...

Depois de uma chuvosa semana de perdas, algumas reparáveis, outras não, finalmente o sol vem renovar as esperanças. Vem também fazer os olhos brilharem, pequenos sóis em rostos na sombra.
O amanhecer e o pôr do sol, nesses rostos, escondem sonhos que só Deus sabe.
Que o sol que vem vindo traga um tempo de bonança.

(made) to be continued

Mas depois da tempestade vem a calma.
E aí, de repente, o outro se apercebe da minha solidão e se aprochega, de mansinho. Um olhar, um carinho, um beijo, o abraço, enfim.
Duas ilhas de mãos dadas, querendo se fundir ao mar.

sábado, 4 de junho de 2011

In: solidão




É tão difícil estar só e acompanhado, cheio de letras e palavras e frases e textos em volta. Cheio de pessoas em volta, até. Mas, ainda assim, desacompanhado. Difícil mesmo, quase chato e inconveniente.

Na companhia do vento e da chuva, vou me acompanhando até mais tarde.

Na companhia de alguém, vou me ensozinhando até quando?

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Sinestésico

Não me lembrava do quanto era gostoso acordar e planejar minhas obrigações de acordo com o meu tempo, e não de acordo com o delas. Quando morava na infância, eu decidia brincar, pintar, estudar, sempre vivendo. Depois que me mudei, estando na casa nova, nem de casinha conseguia brincar. Até que, de brincadeira, tentei mudar de novo. E deu certo. Decidi mudar, radical. E agora as ordens vêm daqui, olha, bem daqui de dentro.


Estar no comando é uma experiência quase sinestésica. Quase, nada. É uma mistura alucinante, que periga até viciar. Sentir o tempo passar, sem pressa; ouvir, com calma, a necessidade que grita e o segredo sussurrado; experimentar sabores: em especial, o meu sabor; olhar, assistir, ler; tocar, sem correr; cheirar flores compradas pro enfeite da sala. Decidir o que fazer, o almoço, a ordem das coisas, a visita, um sem fim de decisões, imersas em um aparente sem fim do tempo. Do meu tempo.


Está tão gostoso assim...

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Fluxo de pensamento

Eu ainda quero entender o porquê de certas coisas. Coisas dos outros, coisas de mim, coisas da vida. Mas, agora, afunilo a questão pra mim mesma e me pergunto, antes de me dar boa noite: por que é que o meu coração tem que estar sempre tão perto, quando quem o faz bater está tão longe? Quando ele vai, poxa vida, tinha que se distanciar de verdade, ficar lá longe, no meio do mar. E não aqui, do meu lado, travesseiro com travesseiro, me acompanhando o dia todo, me matando de saudade. Fico querendo carinho, carente de abraços. O mundo se estranhifica. O sentimento tão perto, o sentimentador tão longe... E a minha dor vai aguçando, aguçando fininho. Até que explode em raiva, em fome, em choro.


Quero entender por que é que eu sou assim, gosto de ficar conversando com palavras. Ô, mania esquisita. Defendo-me de mim mesma: as palavras são oráculos especiais, mudos. Eu falo, ou melhor, eu pergunto, e elas respondem, brotando de meus dedos, engatilhando rápido no teclado. De repente é uma forma de autoanálise. Ou, talvez, uma organização do caos, como já disse Otávio Paz. Ou, Freud explicaria, um caso incestuoso entre mim e eu mesma, uma relação de amor edipiana: quem pariu Mateus que o embale. Não quero gerar problemas aos outros, tão ocupados. Ocupo-me de resolver meus questionamentos, de respondê-los, de enfeitar o meu próprio pavão.


Aí passa o tempo, eu reviso o texto, e relembro as saudades apertadas, enlatadas, desde sempre. O mesmo tema. Saudade de alegria, saudade de dor, palavras choradas e cantadas. Esperadas e empoeiradas. Mas que são espanadas sempre, em uma espécie de ciclo, renovadas.


Por que é que eu estou sempre sentindo saudade?

Hoje

... Com um sentimento de vazio.
Paradoxal: dia cheio, mochila cheia, reclamando de barriga cheia.
Fazer o quê?
A gente vive buscando...

sábado, 16 de abril de 2011

Soneto ao admirável mundo novo

Passeamos por trajetos ocos, com árvores mais falantes do que os passantes
Com pássaros que emudecem o seu canto ao barulho da cidade
E flores que circulam, oferecidas, por jardins em sépia
Onde só à memória da infância é permitido passar.

Daí, consequência, nos prendemos
A familiares sem elos
A colegas, amigos, afins
A quem um sorriso oferece, sem ter porquê. Apenas por oferecer.

Vou vivendo na casa-carro
Dormindo na minha tão-passageira-cama
Apenas sonhando em meu lar.

Queria passear pelos jardins antigos.
Conhecer minha casa como não conheço a palma de minha mão.
Gosto (não se discute: hoje, aceita-se) da pós-modernidade.

domingo, 10 de abril de 2011

Histórias de pescador (contadas pela sociedade e recontadas por sua não tão justa porta-voz)

Não impressiona que a efemeridade brutal com que alguns assuntos são abordados levem, cada vez, mais, à banalização da opinião pública.
A todos é dada, muito bonito isso, a liberdade de expressão e de opinião. O que incomoda é que, mais que a liberdade, o direito de pensar seja vetado a todos, por um acesso a informações manipuladas, capadas e tendenciosamente disfarçadas.
Queixar-me sobre um fato específico não valerá de nada (embora um deles, particularmente do meu universo, esteja latejando em mim). Acho que assim vai ter gente por aqui se tendenciando para o meu lado...
Não busco ser justa, menos ainda ser formadora de opinião, já que a minha flutua em mar aberto. Pretendo apenas tentar pegar a maré certa, ou, pelo menos, aquela que me conduzirá a um mar de calmaria, onde a praia resguarde pescadores conscientes, que saibam ouvir e contar, com respeito e humanidade, suas mentiras de pescador.

Independência particular

Sou adepta de, quando em vez, sentar-me num banquinho de praça para observar a minha vida passante. Há muito que não o faço, já estava com saudade desse silencioso deleite.
Sonolenta do almoço de domingo, sentei e sonhei com os últimos instantes. Observei, com a atenção e a surpresa de um aprendiz, que muito mudou. Resolvi, então, separar as memórias em pedaços e deixá-las passar, ao som da fanfarra, no meu desfile particular, no meu 7 de setembro.
O desfile foi lindo. Não percebi, no antigamente, o que meus olhos vislumbraram. E estes meus olhos marejados, neste domingo de sol de outono, deixam escapar, lágrimas abaixo, a melancolia que sinto pelo que fui, mas também pelo que jamais poderia ter sido.

***

Meus queridos, meus nem tão queridos, meus livros, minhas estradas. Todos meus: ontem, hoje, pra sempre. Conquistados por mim, conquistaram-me. Mas são cativos, não lhes dou a carta branca para partir.

sexta-feira, 18 de março de 2011

A casa é sua



Para um amigo querido de nós dois.

Partamos do seguinte princípio: você ama alguém e com essa pessoa decide dividir o resto dos seus dias. Reúne todos os seus amores, resolve tudo, direitinho, muito feliz, muito bom. Daí você para e pensa: o que está faltando agora?

Aí vem um distinto rapaz e te pergunta, com a cara mais cínica do mundo: Está faltando o quê? O cinismo do talzinho consiste no fato de que ele já vem com a resposta na ponta da língua e diz que ela deve unissoar assim: "Agora não falta mais nada."

Então, meu benzinho, eu te digo mais, porque a minha língua também anda bem afiada: falta sim, vai sempre faltar. Gente assim, como a gente, não se contenta com o regular. Tem o amor, falta o bom dia; tem a televisão, falta o sofá; tem a cama, falta a companhia; tem a casa... falta o amanhã.

No meu caso, os amanhãs vão se somando e crescendo em produção aritmética, esperando quem, no hoje, está fazendo (muita) falta. Por exemplo: agora me faz uma falta danada o momento em que ele e eu, abraçadinhos, vimos que faltava, na nossa vida, ter ouvido este Aranldo Antunes. Saudade do abraço, do momento... E lá vai o relógio pesando. Minha casa ficou pela metade, só se completa daqui a uns 15 dias... Aí fica cheia por um tempinho... mas continua faltando alguma coisa. O problema é que essa tal coisinha ausente eu não sei nomear. Sei é que ela grita lá de dentro de mim, e me faz querer mais, sempre mais, sem esgotar.

Em parte, seu abusado, você ajudou a me deixar assim, querente. A querer ouvir sempre boas palavras, excelentes reflexões, opiniões prudentes. Você também foi o responsável por abrir meus olhos pra conta maluca, em que 1 + 1 viram muito mais que só dois.

Te digo, então: sempre falta, por melhor que seja. Sei que pra você também é assim. E eu quero a sorte de desejar sempre, de querer sempre mais. O que se esgota perde a graça, se torna perfeito, redondinho. Eu quero mais é um caminho irregular, com paradas, retornos, faltas e compensações. Por isso é que (acho que descobri!) a única coisa que falta é fechar a porta. Mas isso eu não faço, nem que vente muito... Com a porta aberta o que falta pode entrar, o que sobra pode sair. Livre arbítreo, a casa é sua.



terça-feira, 15 de março de 2011

Ditos de mulher e homem

- Que fizeste de meu choro?

Sequei-o na guerra
Secou-me no leite

- Que fizeste da minha chaga?

Sarei-a no soldo dado
Sarei-a no pão cozido

- Que fizeste dos meus olhos?

Ceguei-os na tua carne
Ceguei-os no teu bastão

- Que fizeste dos meus filhos?

Dei-lhes a morte nas saias
Dei-lhes a morte nas armas

- Que fizeste às minhas mãos?

Cortei-as na minha fome
Cortei-as na tua fome

- Que fizeste às entranhas?

Tirei-te os filhos de mim
Tirei-te os filhos de nós

- Que fizeste dos meus ossos?

Esmaguei-os de peso morto
Parti-os para que os meus fossem

- Que fizeste da minha alma?

Dei-a de caçar aos outros
Dei-a de comer aos nossos

- Que fizeste do meu amor?

Enfeite que levo à roda
Cama de mal e vergonha

- Que fazes?

Espero morrer sabedora
Espero morrer sem ser morto.

27/ 6/ 71
Novas cartas portuuesas
Maria Isabel Barreno
Maria Teresa Horta
Maria Velho da Costa

segunda-feira, 14 de março de 2011

Das consequências do ócio...

O blog tomou banho. Colocou sua roupa de frutinhas e está se achando todo bonitão.

domingo, 13 de março de 2011

Oração da manhã

Quero acordar e ser tua o dia inteiro
Na intimidade que a segunda pessoa do discurso permite
E até incentiva.

Dos teus braços partir para toda uma vida diária
Cansada, repleta, dormente de saudades de ti.

Para mais tarde, ao final do dia-vida
Dormir e continuar a ser sua
No vai e volta de cada dia
De cada noite
De nossas vidas.

Amém.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Estava à toa na vida...



O meu amor me chamou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Pedaços de (nós em) Cuba














Dá pra traduzir saudade pra Espanhol?



sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Questão pouco clara, quase piada interna, meio barroca, meio freak, meio sem pé nem cabeça:

Será que algum dia vou deixar para minha posteridade particular o remorso de não ter se dado conta, em minha presença, de algo que não sei se mostro, mas desejo imensamente, diariamente, compulsivamente, mostrar?

Trough the window

Tem uma janela no quarto da menina que a faz ter um brilho inigualável no olhar. E o engraçado é que ela olha por todas as janelas da casa e nada vê além de cinzentas multidões. Mas tudo muda quando muda de janela. Em seu quarto, onde ela pode vestir seu vestido favorito, de flor, aí sim. Ela se debruça na janela e tudo vira uma extensão das flores. Olhos, ouvido, garganta, mãos, sentidos. Como uma onda gigante, devastadora ao reverso. Lindo de se ver. Mas só quem vê são os olhos do papel.

A janela, ninguém vê, só ela. Porque, se batem à porta, ela recolhe a cauda do vestido e esconde a janela embaixo do travesseiro. E só quem a conhece bem percebe que ela mirava pela janela.

(Quero ser como ela, um dia).

Quem acredita...

(nem) sempre alcança.



Estamos combinados?

sábado, 15 de janeiro de 2011

Propaganda

do meu amigo, Caio Di Palma.

Me fez lembrar dos bons momentos-paradoxo que vi em Cuba.


http://dalailamaaocaos.blogspot.com/2010/12/rum-baco-del-fuego.html?showComment=1295116860965_AIe9_BFxjoTZVvSuKX7vgytu_kyaXRD6IGdvSYycRVUKePG2DtKXYU3bBJbe-yiJE_PQDl48o75roL34sTwhOYjKn8olaLl25RZHEGspXXutFdoqegTsOkGwbvz6y6SoZe66xTufEa9DqErEY0TTB-BtTEf_WTZr9qXNfLHpeFNx5GnEZUzwWZBYnC_zg1AOfEpA9WTqQT0I_-PcOXDwdg6EFmadTKYfsOZiD178FcyDUodON4RSBlcfAeEOedDVPLRI5C6MY40bU_XBNPMnMI9ic-1IrqmcVV2LIkKT8EA0eXhoukhpEX1TXSN_M5VFFN1nxZlf0IfbPibtpWjod61-PDkGzEqRsD7XRFI-80dwFshMwKqjsPyg1ansYz3eSXkxdmdpCFG-Isxd3bxo-HSXGjz2lTSmqb1pKDdQJatpSIDXyTbYLpAJ2WHF2gqXB0x8Ki0FF9ZjsgelhEEmuP0FDBP5zar8aLPird8ft52FJq6mwOzH705QdWPHiVKRM6FLO6ngzvYJEUPGsAuaSZzzVOHWyrKga--kkrmjsuPaXm5K5K58vSP632A6IOAH5Vk3r3ZnzVGwYl9FZ1ZRJ_xXKOVr731g-Wkkr3hXhE-pnMWvUjDnjlK3_TnoHx2c8Sy-LUfA-Gm2RQHehyDmr3QVcKqcwTWvV2NOyAfUM_5lmHa5FjlWx45Gqdody87LGGfnuBWZUY2TNZa0umYttutaHTDJULQodfHa3cILa0w1vRqc0xBKfQCVomX2m_ilwbvEwS-pgZ6Lvr7JBBEXBy7EnQ8Fe0jogA#c497922653487894457

Nada é por acaso

Obs. 1: Título ruim.
Obs. 2: Menosprezo pelo produto próprio é necessidade de elogio? Creio que sim.
Obs. 3: Por isso não falo, escrevo. O erro, assim como o perdão que é assinado embaixo, podem perdurar, eu não. "Um passo para a eternidade". Perdão pelo subtítulo, também, ruim!

***

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"
Antoine de Saint-Exupéry

Boca santa, bendita seja!

***

Acho que cativei alguém, que me cativou também. Sorte a nossa!
Mas às vezes a gente se descativa, pra depois mais cativar, bem fundo no coração, novamente.
E nesse cativa-descativa-cativa, a vida vai passando, passando... até que o cativo se torne

caverna
cavado
escavado
cavucado
casado

***

Obs. 4: Mudo, tardiamente, o título deste texto para: "Tapa de amor não dói ou da Adélia Prado cativa em mim.

***

Casamento
Adélia Prado

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

***

Bonito, corajoso, sincero e muito, muito poético. Especialmente pelo fato de deixar de ser para ser no outro e, no outro, serem dois.

***

1+1= 2 (feito de dois, mais que só dois)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Hasta siempre ou aquilo que passou pelos olhos dos viajantes

Passou o Natal e Papai Noel não veio. Ele, na verdade, colocou os dois no saco de presentes e os despachou em um avião para Cuba. Disse: "Desta vez, o presente vem até vocês e vocês, também, vão até o presente". Aí eles ficaram sem saber se era presente de grego. Nada! Era presente de vida!

Em Havana charutearam por ruelas mais antigas que o socialismo, mas tão vivas quanto o marejar da bandeira ao vento; reconheceram, nas mãos erguidas em rifle dos velhinhos, o sangue descrito nas reportagens poucas do Granma e do Trabajadores; vibraram em ruas labirínticas, povoadas de pessoas bonitas e feias, tão misturadas, tão brasileiras, mas que refletiam uma estrela no fundo dos olhos; deixaram-se embriagar pelas cores, pelos múltiplos vermelhos, dourados e amarelos que enfeitam, à la barroca, os penteados, as roupas, La Havana.
Ainda em Havana, cheiraram uma igualdade profundamente desigual, beberam (mas tiveram que engolir a seco) os dentes de ouro que ofereciam sua simpatia em troca de CUCs e, finalmente, engasgaram-se ao comprar 3 LIVROS por 70 centavos!

Passaram por estradas bem cuidadas, se deixaram levar pelo mais azul dos mares e, lembrando-se dos entes queridos, distantes e legítimos parentes havanos, desfrutaram da cuba libre e da piña colada, à beira da piscina. Entre um mergulho e outro, deleitaram-se com os papos extremamente inteligentes de maleteiros, ex-professores e hasta siempre amantes de Fidel. Mas ouviram os dois lados: o dos amantes e o dos odiantes.
Conheceram e se apaixonaram pela história de Camilo Cienfuegos, e, claro, hasta siempre... "Mi comandante Che Guevara".

http://www.youtube.com/watch?v=po09lcDxXIA&feature=fvsr

Viram escolas em que as professoras deixam crianças de castigo, limpando a sala, porque estava claro - o olhar ALEGRE das crianças denunciava - que a justiça estava sendo feita. Mamãe e papai, certamente, não estarão lá no dia seguinte, com o dedo em RIFLE apontado à professora, ameaçando seu emprego e sua dignidade.

***

Eles viram casas tortas, charutos na boca, roupas coloridas, paraísos na terra e uma ideologia que transpôs os muros e as bandeiras e foi parar na boca do povo. Prometeram que voltarão lá, um dia, para comemorar os 10, ou os 20 anos de algo muito bom... Que durará - isto confessou-me Papai Noel, num castelhano meio polonês, meio esquisito, mas que eu compreendi muito bem - hasta siempre.