sexta-feira, 18 de março de 2011

A casa é sua



Para um amigo querido de nós dois.

Partamos do seguinte princípio: você ama alguém e com essa pessoa decide dividir o resto dos seus dias. Reúne todos os seus amores, resolve tudo, direitinho, muito feliz, muito bom. Daí você para e pensa: o que está faltando agora?

Aí vem um distinto rapaz e te pergunta, com a cara mais cínica do mundo: Está faltando o quê? O cinismo do talzinho consiste no fato de que ele já vem com a resposta na ponta da língua e diz que ela deve unissoar assim: "Agora não falta mais nada."

Então, meu benzinho, eu te digo mais, porque a minha língua também anda bem afiada: falta sim, vai sempre faltar. Gente assim, como a gente, não se contenta com o regular. Tem o amor, falta o bom dia; tem a televisão, falta o sofá; tem a cama, falta a companhia; tem a casa... falta o amanhã.

No meu caso, os amanhãs vão se somando e crescendo em produção aritmética, esperando quem, no hoje, está fazendo (muita) falta. Por exemplo: agora me faz uma falta danada o momento em que ele e eu, abraçadinhos, vimos que faltava, na nossa vida, ter ouvido este Aranldo Antunes. Saudade do abraço, do momento... E lá vai o relógio pesando. Minha casa ficou pela metade, só se completa daqui a uns 15 dias... Aí fica cheia por um tempinho... mas continua faltando alguma coisa. O problema é que essa tal coisinha ausente eu não sei nomear. Sei é que ela grita lá de dentro de mim, e me faz querer mais, sempre mais, sem esgotar.

Em parte, seu abusado, você ajudou a me deixar assim, querente. A querer ouvir sempre boas palavras, excelentes reflexões, opiniões prudentes. Você também foi o responsável por abrir meus olhos pra conta maluca, em que 1 + 1 viram muito mais que só dois.

Te digo, então: sempre falta, por melhor que seja. Sei que pra você também é assim. E eu quero a sorte de desejar sempre, de querer sempre mais. O que se esgota perde a graça, se torna perfeito, redondinho. Eu quero mais é um caminho irregular, com paradas, retornos, faltas e compensações. Por isso é que (acho que descobri!) a única coisa que falta é fechar a porta. Mas isso eu não faço, nem que vente muito... Com a porta aberta o que falta pode entrar, o que sobra pode sair. Livre arbítreo, a casa é sua.



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