quarta-feira, 27 de abril de 2011

Fluxo de pensamento

Eu ainda quero entender o porquê de certas coisas. Coisas dos outros, coisas de mim, coisas da vida. Mas, agora, afunilo a questão pra mim mesma e me pergunto, antes de me dar boa noite: por que é que o meu coração tem que estar sempre tão perto, quando quem o faz bater está tão longe? Quando ele vai, poxa vida, tinha que se distanciar de verdade, ficar lá longe, no meio do mar. E não aqui, do meu lado, travesseiro com travesseiro, me acompanhando o dia todo, me matando de saudade. Fico querendo carinho, carente de abraços. O mundo se estranhifica. O sentimento tão perto, o sentimentador tão longe... E a minha dor vai aguçando, aguçando fininho. Até que explode em raiva, em fome, em choro.


Quero entender por que é que eu sou assim, gosto de ficar conversando com palavras. Ô, mania esquisita. Defendo-me de mim mesma: as palavras são oráculos especiais, mudos. Eu falo, ou melhor, eu pergunto, e elas respondem, brotando de meus dedos, engatilhando rápido no teclado. De repente é uma forma de autoanálise. Ou, talvez, uma organização do caos, como já disse Otávio Paz. Ou, Freud explicaria, um caso incestuoso entre mim e eu mesma, uma relação de amor edipiana: quem pariu Mateus que o embale. Não quero gerar problemas aos outros, tão ocupados. Ocupo-me de resolver meus questionamentos, de respondê-los, de enfeitar o meu próprio pavão.


Aí passa o tempo, eu reviso o texto, e relembro as saudades apertadas, enlatadas, desde sempre. O mesmo tema. Saudade de alegria, saudade de dor, palavras choradas e cantadas. Esperadas e empoeiradas. Mas que são espanadas sempre, em uma espécie de ciclo, renovadas.


Por que é que eu estou sempre sentindo saudade?

Hoje

... Com um sentimento de vazio.
Paradoxal: dia cheio, mochila cheia, reclamando de barriga cheia.
Fazer o quê?
A gente vive buscando...

sábado, 16 de abril de 2011

Soneto ao admirável mundo novo

Passeamos por trajetos ocos, com árvores mais falantes do que os passantes
Com pássaros que emudecem o seu canto ao barulho da cidade
E flores que circulam, oferecidas, por jardins em sépia
Onde só à memória da infância é permitido passar.

Daí, consequência, nos prendemos
A familiares sem elos
A colegas, amigos, afins
A quem um sorriso oferece, sem ter porquê. Apenas por oferecer.

Vou vivendo na casa-carro
Dormindo na minha tão-passageira-cama
Apenas sonhando em meu lar.

Queria passear pelos jardins antigos.
Conhecer minha casa como não conheço a palma de minha mão.
Gosto (não se discute: hoje, aceita-se) da pós-modernidade.

domingo, 10 de abril de 2011

Histórias de pescador (contadas pela sociedade e recontadas por sua não tão justa porta-voz)

Não impressiona que a efemeridade brutal com que alguns assuntos são abordados levem, cada vez, mais, à banalização da opinião pública.
A todos é dada, muito bonito isso, a liberdade de expressão e de opinião. O que incomoda é que, mais que a liberdade, o direito de pensar seja vetado a todos, por um acesso a informações manipuladas, capadas e tendenciosamente disfarçadas.
Queixar-me sobre um fato específico não valerá de nada (embora um deles, particularmente do meu universo, esteja latejando em mim). Acho que assim vai ter gente por aqui se tendenciando para o meu lado...
Não busco ser justa, menos ainda ser formadora de opinião, já que a minha flutua em mar aberto. Pretendo apenas tentar pegar a maré certa, ou, pelo menos, aquela que me conduzirá a um mar de calmaria, onde a praia resguarde pescadores conscientes, que saibam ouvir e contar, com respeito e humanidade, suas mentiras de pescador.

Independência particular

Sou adepta de, quando em vez, sentar-me num banquinho de praça para observar a minha vida passante. Há muito que não o faço, já estava com saudade desse silencioso deleite.
Sonolenta do almoço de domingo, sentei e sonhei com os últimos instantes. Observei, com a atenção e a surpresa de um aprendiz, que muito mudou. Resolvi, então, separar as memórias em pedaços e deixá-las passar, ao som da fanfarra, no meu desfile particular, no meu 7 de setembro.
O desfile foi lindo. Não percebi, no antigamente, o que meus olhos vislumbraram. E estes meus olhos marejados, neste domingo de sol de outono, deixam escapar, lágrimas abaixo, a melancolia que sinto pelo que fui, mas também pelo que jamais poderia ter sido.

***

Meus queridos, meus nem tão queridos, meus livros, minhas estradas. Todos meus: ontem, hoje, pra sempre. Conquistados por mim, conquistaram-me. Mas são cativos, não lhes dou a carta branca para partir.