sábado, 24 de abril de 2010

A não-palavra (que cisma em gritar dentro dele e dela)

Ela sentiu vontade de dizer que o amava, mas não como sempre. Um desejo vomitado, que de tão agressivo lhe pareceu sutil. A ela e a ele, porque a menina de seus olhos nada mais disse que um tímido eu te amo. muito. E a menina dos olhos dele, distraída, sequer notou a diferença.

Ela notou que, nos últimos tempos, estavam rareando as expressões de amor, que cediam espaço às expressões do amar. Seria, talvez, essa a explicação: amor enlatado. amor cansado de explodir no quarto do coração, no grito sufocado pelo silêncio, na dor do amar.

Ele, lógico, sentiu-se amado. muito.

Ela sentiu que queria amar. Amar a palavra, gerá-la, primeiro, para depois torná-la realidade. Mas a não-palavra que, sem querer, se expressou muda, pôs esse sentimento-instante a perder.

A despalavra, então, tornou-se desejo de abraço... Mas, desespero, esse também não veio. Estavam separados pela mesa, a Coca Cola dela, o saquê dele, os restos da noite.

E quando ela pensou que o instante havia passado
quando o assunto já se encontrava trocado
lenta, como o amor,
a mão dele tomou as suas: as duas
e seus olhos se cruzaram - sem palavras
para gritar o te amo mais silencioso.

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