quinta-feira, 27 de maio de 2010

Domingo

Decidiu na noite anterior que acordaria mudada. E foi. Deixou os chinelos, foi descalça até o chuveiro, onde não lavou a cabeça. Presos, os cabelos foram se soltando, ao longo do caminho, até a praia. Na praia dançou, sob o ritmo das vagas, uma dança sem igual. Cabelos molhados, vestido molhado. E, secando ao sol, percebeu que a dança das ondas também atraía outros seres mudados: passarinhos, pessoas. Pessoas mudadas em passarinhos. E, leve como a pluma, levantou voo pra casa. Direto pra casa. No caminho até que pensou: - Vou passar no... - e sua ideia também foi mudada. Em casa não pegou filme, não descansou, não dormiu. Leu. Pegou um livro antigo, de historinhas deliciosas do Drummond, e não. Não ruminou saudades, não sofreu antecedências, não comeu ansiedades, sequer banho tomou, pois a praia já havia levado a poeira para as suas profundezas. Apenas leu. E, no embalo das letras, rodopiando na vaga das linhas, dos parágrafos, das histórias... Dormiu. Enfim. Exausta do seu dia mudado. E acordou cedinho, e tudo já estava remudado. Inclusive sua alma, que de cinza ficou branca. Clara como o dia que estava prestes a recebê-la.

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