sábado, 24 de julho de 2010

Chovem amores na rua do matador


Festlip.
Está rolando um festival de teatro, música e gastronomia comuns aos países falantes da língua portuguesa. Pena que pouca gente sabe. Nós, por aqui, só ficamos sabendo na metade do caminho; pelo menos só tivemos a possibilidade de participar na metade do caminho. E aí, pra compensar, assistimos à peça que intitula este post, que é maravilhosa, porque foi escrita pelo Mia Couto e pelo Agualusa. (de minha opinião mais pela parte daquele do que deste, ok.)

É assim: um homem, de 49 anos (ou algo assim), decide voltar à cidade onde passara parte de sua vida, onde moram os seus três amores. Decide que é preciso matar o passado para viver o futuro (e até mesmo o presente). Decide, então, matar as três tais, suas três desgraças, esses seus três amores. Melhor: decide matar toda a cidade, cortando o mal pela raiz, e assim, (re)fazer-se.
Ele, porém, não é homem-macho para matá-las. Não é homem nem para ouvir de verdade, porque só ouve no sonho: "Não podemos matar-te a ti, pois há muito que já morreste dentro de nós".
E ele se morre. Não uma, nem duas, nem três. Quatro ou cinco vezes precisará fazer essa viagem. E, como as gotas da chuva, que teimam em derramar amores naquela rua deserta, na rua daquele Matador, forma-se o ciclo da água, até que a vida passe. E repasse. E se repasse. 

***

Fiquei pensando depois em como é estranho matar pessoas dentro de nós. Deixá-las lá, mortinhas da silva, com uma lápide de lembranças, convivendo com gramas fresquinhas, terras recém-descobertas. Nossa... fiquei assustada em rezar uma Ave-Maria pelas almas do meu purgatório, que às vezes nem mesmo na memória eu me lembro de ressuscitar.

2 comentários:

  1. ainda tá rolando isso?
    a peça parece ótima mesmo!
    qdo vc falou em matar as pessoas dentro de nós, lembrei de 'Brilho eterno de uma mente sem lembranças', já viu?

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  2. Q saudades da minha linda escrevinhadeira!
    Amo-te!

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