sábado, 16 de janeiro de 2010

Em primeira pessoa

Aqui, no nosso Haiti, morros desmoronam, vidas escorrem por água abaixo.
Por aqui, reclamamos do governo, do calor, do trabalho, da vida.
Mas só nos lembramos de que o Haiti
é aqui
quando vemos que, de fato,
ele não é aqui.
O espelho vizinho reflete nossos pequenos deslizes.
E na tormenta alheia vemos
que temos que rezar pelo Haiti.
Mas se nem mesmo pelo nosso Haiti rezamos
se preferimos esperar pela quarta-feira de Cinzas
se as águas de março deixam
promessas de vida no coração
por que não esperar
O terremoto passar?
A chuva cair?
A favela descer?
O bloco passar?

O Haiti é aqui.
O Haiti não é aqui.

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